terça-feira, 5 de abril de 2011

CULINÁRIA DO TEMPO DE JESUS



O livro de Gênesis nos relata que Deus concedeu à humanidade uma enorme variedade de plantas, ervas e árvores frutíferas, para servirem de alimento para sua subsistência e sobrevivência:

"Eis que vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente para que vos sirvam de alimento" (Gn. 1: 29).

Conta-nos ainda que Deus criou também os peixes, as aves e os animais, dando ao homem e à mulher a liberdade de reinarem so­bre todos eles:

"Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra" (Gn. 1: 26).

A Moisés, um de seus profetas, Deus ordenou que libertasse seu povo da escravidão do Egito e o conduzisse “para uma terra fértil e espaçosa, uma terra onde manam leite e mel" (Ex. 3: 8).

Assim, a Terra Prometida proporcionaria, ao povo Hebreu, leite, mel, uvas, figos, romãs, amêndoas, azeitonas, além de leguminosas, como favas, lentilhas, e diversos tipos de grãos, como trigo e ceva­da em abundância.

"O Senhor, teu Deus, vai conduzir-te a uma terra excelente... uma terra de trigo e de cevada, de vinhas, de figueiras, de romãzeiras, de óleo de oliva e de mel" (Dt. 8: 7-8).

Diante de tamanha riqueza, abundância e variedade de elemen­tos e ingredientes,e utilizando a inteligência e a liberdade que Deus proporcionou ao homem, podemos concluir que inúmeros eram os pratos preparados e servidos para a alimentação e, por que não dizer também, para o deleite e o prazer desse povo escolhido por Deus para se revelar à humanidade.

Assim se expressa o autor bíblico no livro de Eclesiastes: "Eis o que eu reconheci ser bom: que é conveniente ao homem comer, beber, gozar de bem-estar em todo o trabalho ao qual ele se dedica debaixo do sol, durante todos os dias de vida que Deus lhe der. Esta é a sua parte. Se Deus dá ao homem bens e riquezas e lhe concede delas comer e delas tomar sua parte, e se alegrar no seu trabalho, isso é dom de Deus" (Ecle. 5: 17-18).

Mas, apesar de tudo isso, não encontramos na Bíblia, especifica­mente, registros de receitas dos pratos que eram consumidos nas refeições e nos banquetes mencionados com freqüência em seus textos, porém existem diversas referências aos ingredientes utilizados na época, como, por exemplo, em Ezequiel 4: 9, quando Deus ordena ao profeta: "Tomaras trigo, cevada, favas, lentilhas, milho e aveia,que guardarás num mesmo recipiente para fazeres o teu pão..." (Ez. 4: 9).

Da mesma forma, lemos, em II Sm. 17: 28-29, que, após uma dura batalha, Davi e seus soldados são recebidos pelos anfitriões com "(...) trigo, cevada, farinha, grão torrado, favas, lentilhas, mel, manteiga, ovelhas e queijos de leite de vaca... Trouxeram tudo isso a Davi e às suas tropas para que se alimentassem, dizendo: Estes homens com certeza sofreram fome, fadiga e sede no deserto".

A Bíblia, pelo que podemos observar nas entrelinhas, sugere-nos uma culinária típica, diversificada e bastante saudável, pois:

• O leite era abundante na primavera e bastante consumido, in natura e também em forma de coalhadas, queijos e man­teiga. Era comum, nas refeições, servirem o iogurte, numa espécie de molho, sobre legumes crus ou cozidos e verdu­ras, da mesma maneira que utilizamos, hoje em dia, o cre­me de leite. Um queijo pastoso elaborado à base de coa­lhada era preparado para ser passado no pão, conforme fa­zemos, por exemplo, com a nossa popular maionese.

• Muitas leguminosas, como as favas e lentilhas; diversos ce­reais, como o trigo, a cevada e a espelta (uma espécie de trigo inferior e mais duro que o trigo comum); além de verduras e legumes servidos crus, também eram consumi­dos diariamente.

• O pão, inúmeras vezes citado no decorrer da Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento, era o alimento principal e o mais consumido pela população. Era pre­parado com cereais integrais, apenas triturados em mo­inhos de pedra, sendo, portanto, um alimento rico em fibras vegetais.

• As aves e os peixes, normalmente, substituíam a carne vermelha. A carne vermelha de gado, graúdo ou miúdo, era consumida só em ocasiões especiais, sendo conside­rada até como um alimento de luxo, e era servida cozida ou, preferencialmente, assada. Diversas passagens bíblicas nos mostram o uso da carne como oferenda a Deus. Nos primeiros livros da Bíblia, os pedidos do povo a Deus eram santificados por meio de rituais en­volvendo animais assados (leia Gn. 8: 20-21). Os sacrifícios de animais eram oferecidos em ações de graças a Deus e serviam também para expiação dos pecados do povo (Nm. 15: 2-3).

• O povo simples só consumia a carne vermelha em ocasi­ões muito especiais, como dissemos, nos sacrifícios, ou então para receber hóspedes importantes (Gn. 18: 7-8). Utilizavam geralmente as carnes de cabra, carneiro, vaca ou mesmo vitelo (verifique em I Sm. 25: 18; Gn. 18: 7; I Rs. 4: 23; Am. 6:4).

• A Lei de Moisés permitia-lhes ainda o consumo da caça, como veados, gazelas e gamos (citação em Dt 14: 4-5). Já o consumo de pombos, passarinhos e rolas era muito comum, pois essas aves eram abundantes e não custavam caro no mercado. As galinhas só foram conhecidas pelos hebreus no tempo do exílio, e os ovos, utilizados como alimento, só são mencionados no Novo Testamento. O peixe, nas regiões onde havia fartura deles, era o alimento básico do povo pobre.

• O mel era bastante apreciado pelos israelitas e abundante na Palestina, sendo usado puro nas refeições ou na elabo­ração de pratos doces, substituindo o nosso açúcar refina­do. Aliás, entre os povos palestinos até hoje o mel é utili­zado como adoçante.

• As frutas desempenhavam um papel importante na alimen­tação e na nutrição das pessoas. Frutas como uva, tâmara e figo eram muito apreciadas e consumidas, frescas ou secas. Também eram comuns as romãs, os abricós, os frutos do sicômoro (uma espécie de figo), as nozes e as amêndoas, e, após o exílio, foram introduzidos nos cardápios os limões, as amoras e os melões.

• Condimentos e ervas aromáticas, como a hortelã, o cominho e o endro (da família do funcho e da erva-doce), a mostarda, a alcaparra, o açafrão, a canela e o sal, eram utilizados normalmente para temperar e dar um sabor es­pecial aos pratos.

• As bebidas usadas basicamente eram a água, o leite e o vi­nho. O vinho era tido como um dom de Deus (confira em Gn. 27: 28; Dt. 33: 28) e também uma fonte de alegria (ve­rifique emEcl. 9: 7; SI. 104 (103), 15; Jo. 2: 1-11). Prepara­vam também um vinho doce ou fermentado, às vezes aromatizado. Alguns vinhos eram obtidos a partir de ou­tras frutas, como o vinho de romãs (Cânt. 8: 2).

• Certas passagens bíblicas nos contam que os operários mata­vam a sede molhando pão em vinagre, tomado como água (Rt. 2: 14). Daí podemos entender, talvez como um gesto de misericórdia, o fato de os soldados oferecerem vinagre a Je­sus, agonizante na cruz (leia a passagem em Jo. 19: 28-30).

Sabemos que os israelitas foram subjugados e dominados, du­rante séculos, por diversos outros povos, como os egípcios, os persas, os babilônios e os romanos - e em diversas ocasiões. Logo, conclu­ímos que eles conheceram novos alimentos e absorveram outros estilos culinários, no contato com a cultura de seus opressores.

Fonte: Alice Mariotto Kater

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